segunda-feira, 28 de março de 2011

Farenheit 451, a biblioteca futurista de Brasília e o seguro de um Fiat 147


Incription de Diane Samuels



Celulose, água, cola e ... VOI LÁ! Adivinhou? Sim, peças de museu.
Já a dois anos a biblioteca nacional de Brasília tem suas ferramentas presas por um vidro, impedindo que elas trabalhem nas nossas mentes, afinal, seu sentido de existir.  A lengalenga regurgitada pela zotoridade (in)competentes – causa do sono de toda produção pecuária sul-mato-grossense – é que não foram instalados mecanismos de defesa contra roubos – nesse curtíssimo espaço de tempo – dos preciosos, leia-se presssciosos livros, tornando todos aqueles quilos de sequóias prensadas uma só obra de arte futurista, sarcástica e no auge da moda procrastinável pública. Totalmente horrorshow.

A comparação que fazemos agora – eu, você, nós dois, três, dez- é a daquela sua avó, ex-triatleta, campeã olímpica em Berlim, que adquiriu osteoporose nervosaguda e que vive num apartamento ao lado da Praia do Forte. Assim nossos amiguinhos folhudos devem se sentir. E é assim que a loucura de Ray Bradbury, que conhecemos pelo nome de Farenheit 451. Os livros, o fogo, o fogo quente aos ”perigosos” livros. Mais válido que essa prisão sádica numa lan house governamental. Uma piadinha de mau gosto que força comparação os desejosos leitores a cachorros de rua, olhando um frango gordo girando num forno de padaria.


Horrorshow mesmo seria esse fim imaginado em Bradbury. Um fim digno e tão simbólico como no conto do inglês. A queima desses objetos subversivos, redentores. Daríamos o Valhala aos livros, no fogo puro, retirando-os do seu limbo eterno que os impede de sua função, seu pressssciosismo é válido, muito mais válido ao pesquisador, ao estudante e ao sedento, que às prateleiras da biblioteca nacional de Brasília.
Partindo desse ponto, deixo ao amigo a frase do filósofo Confúcio, grande armador do Pinheiros de setenta e oito, que ajuda na reflexão:

“Um livro preso na prateleira é tão útil quanto o seguro de um Fiat 147”







quarta-feira, 23 de março de 2011

Lenga Nº 17 - Mata. Mata. Mato!



Me desculpe madonna*, não participo dessa coisa verde toda não, só aceno de longe.
Mato bom, sim, pra cigarro de palha, que, em desculpa, serve pra me espantar os mosquitos. Que em desculpa, me serve pra pensar n'água correndo e nas moças achando maravilhas, sem ver, os borrachudos sorrateiros comendo-lhes a carne tenra, visível.
É, mato bom pra pensar na coisa toda d'um canto de passarinho, no acasalamento natural, chamar tanta atenção quanto um chevette prata, e ver que tudo é mais perto que a gente pensa.
Bom pra lembrar do cheiro do escapamento e, escapar de volta, quando o céu escurece e o luminoso é mais importante, interessante, instigante, que qualquer lareira.
Queria ser verde minha madonna, mas acontece que aprecio o sujo.


*Não, não é essa madonna.

terça-feira, 22 de março de 2011

Lenga N º 6 - Existe?

Escher




Há de haver muitos hãos entre Ázes. É sempre o a que nunca houve. Átrio, ventrículo direito, tricúsipide, tríplice trapaça. Há, houve, existe. Eterno não ser. Eterno Solilóquio, que perde o sentido só, sendo esquecido o significado.

Não sei o que é solilóquio.

"É gato preto no escuro", a mesma história do Guimarães. Garanto. É o resto do fim da guimba do Guinga. É a festa de cupim em rocha de ferro. É faca de gume cortando, um já perdido jasmim.

É pau, é pedra, é papel, é o fim do prelúdio.




domingo, 20 de março de 2011

Lenga Nº 11 - (in)atividade poética



Esfereográficamente garranchos à bic. Doze letras pro soneto, não dão dez sílabas. Troco por Times New Roman. Já não tenho nada concretista, afinal. E as flores são estranhas nessa tela sem cheiro.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O apanhador de desperdícios - Do Mestre Tio de Barros

De David Fuhrer



Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios


Obrigado por me dar esse inutensílio e essas tralhas tão incríveis, meu tio Manoel de Barros.



* Pela primeira vez o verbo de outro poeta invade este quintal sem que por minhas palavras. O faço para conversarmos na próxima atualização, numa prosa informal e pessoal.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Variações de um mesmo tema.

Os textos a seguir são fruto de uma cochilada no sofá de minha mãe e, para trabalhar um pouco do que foi, neste sonho, dito, tratarei de duas formas as mensagens, que são encontradas abaixo.

Sextante 0




Sextante

 Encostei ca ta ma ram
A encontrar carmim o mar
Encardido, sórdido
Bravo verme
Herói
Marcado em mensagem, o mar vermelho
Mordido de ondas
Sondado por fim
Uma mensagem ardida, de ouro
D'um frio lastro sem valor
Na fina camada de festim

Navego, não vivo

Sextante 1



Abriram os portos, meu catamarã lançou-se ao carmim. Era bravo, era sórdido, enfim, herói.
Não Havia, para mim, thelemáquia, ou mesmo Brobdignag. Havia uma mensagem que, vinda de um céu, eternamente poente, gravara em minha pele desbotada seu código, a aço frio, a ouro frio e a mercúrio.
A vela carregava estandarte azul e prata, que a luz agonizante ainda faz luzir o brilho cinza. O gosto de ferro, carne seca, peixe voador. Sabia que deveria navegar e, só em meu pavimento, ao sabor das ondas, seria portador do que me marcava em código na epiderme.
Não quis botas, chapéus, brasões. Segui tal recém-nascido atônito em recém-nascido mundo, Viveria, mas isto não era preciso. Não será. Em diante, de agora, caminho carmim aberto. Sem ilha, península ou continente.
Até passar a mensagem.
Até consumir-me de palavras.
Até encobrir-me a tempestade, assim rubra, de uma afogar enérgico, fulminante, para não me debater, nem lembrar, nem voltar ao porto.