segunda-feira, 19 de março de 2012

Os Berlandênses 1 : A conexão entre Michel Teló e meus ovos.

http://fotolog.terra.com.br/brunobus:810

"_ (...) e você gosta de que tipo de música?
_ ah, tudo menos roque pauleira.
_ então você é da turma do peão, como cento e trinta porcento da cidade?
_ eu escuto de tudo. Menos roque pauleira
_ Wando também?
_ esse só minha avó ouve hoje em dia, e você?
_ acho o Wando genial.
_ não, o que você gosta de ouvir?
_ tudo, menos aquilo que me estupre, musicalmente falando.
_ credo!, como assim estupre?
_ olha, tipo aquela do... assim você me mata.
_ mas essa música é legal.
_ você gosta da letra ou da melodia?
_ ah... eu só acho divertida mesmo, mas o que que é melodia?
_ é tipo a dancinha da música, só que sem ninguém dançando... deixa pra lá.
_ você é engraçado moço. Não sei porque isso é estupro, gostar de uma música inofensiva...
_  isso não tem haver em gostar, mas em ter de ouvir o tempo todo.
_ é só não ouvir ou colocar no emepê três.
_ e lá ouvido pisca? Essas coisas tocam nos jogos, nos carros na rua, nas propagandas, sem se querer a música entra ouvido adentro.
_ é. mas ela é divertida.
_ falta a arte e o balé.
_ ahn?
_ Titãs, era uma banda de roque pauleira, depois... bom esse é o seu ponto, não é mesmo?"

Conversa informal registrada no T131, próximo ao terminal 3 da Av. João Naves de Oliveira em Uberlândia no estado do Texas.

sexta-feira, 16 de março de 2012

A morte matada de Daniel Lima - Uma ode ao ontem

"A poesia matou um poeta da região com algodão doce embebido em alcool 92% retirado do seio de uma garota jovem numa manhã de quarta. Não há vestígios no local. Chovia."
retirado de um jornal local.


Tudo começa com os nervos e os calcanhares terminando por acabarem. Eles morrem como células da pele. Uma a uma. Todos os dias.
Depois os ânimos se tornam porres de suco de vento e ressaca de vinho barato pago por alguém cujo nome está escrito em cantonês antigo. As situações são narradas pelo dono da garrafa e pouco entendidas.
Seguintemente os desânimos, tardes ensolaradas no telhado de quem não se teve o prazer de conhecer. Dançando gafieira com o poste de luz e a gravidade terrestre.

E então, vem o então. Vários entões.

A morte, em si, é dolorosa. Pode demorar 350 anos para acontecer. Depende das traças e do movimento de translação da Terra e de um estudo de astrologia, alquimia, astronomia e culinária dirigido por um duende montado num minotauro que não existe.
Em geral, o poeta morre de morte morrida. Alguns de morte matada, como o caso. Por olhos verdes/castanhos/azuis/amarelos de moça, ou a escalação do Atlético toda desfalcada e com três volantes da Fiat, ou mesmo fígados incapazes de pegar tuberculose decentemente ou atropelados por mosquitos em cruzamentos.
Mas em geral por morte morrida mesmo.
Não deixam herança, herdeiros ou hordas. Não deixam rimas, ritos ou ratos. Não deixam as contas do armazém pagas, nem as equações de segundo grau, nem as que ficaram de acertar com o herói do últio faroeste da ecada de sessenta.
Deixam só o lixo, como lírios de paralelepípedos, amores penitenciários de jardim de infância, restos de poeira da estante de livros do avô e metafísica de 1,99 compradas do Pessoa.

No dia em que matei Daniel Lima, era uma quarta-feira de cinzas.
Descanse em paz.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Verdade Calcária



A poesia concreta de verdade só é feita no escuro.
Da palavra que, de tão concreta, é tocada pelos dedos.
Ali, a verdade é cerâmica, e o verso é calcário.
Só o poeta é a água.
 
 Ele evapora.

A poesia aparece.
 





segunda-feira, 12 de março de 2012

Aa Mesa

de Vik Muniz

Quando o rito se faz
( barulhos de copo na mesa )
Os primitivos se limpam no punho
( rezando um pai nosso )
Eles oferencem aos seus velhos deuses
( até os garfos cavarem a comida )
A caça bem ou mal sucedida.
( e a coca-cola lavar os dentes de arroz )
Dão pedaços maiores aos caçadores
( O governo é comentado se bom, mau ou indiferente )
e os restos para as mulheres e crianças,
( também o futebol em suas rodadas infinitas )
Mas, mesmo assim, nada falta a ninguém.
( assim como as lorotas já antigas de família )
Nas mãos o carvão e a terra
( Os mais velhos, incuráveis saudosistas )
temperaram a carne, que foi suficiente
( os mais jovens, incuráveis descontentes. )
de mesmo modo, os corpos nus
( Eles desrespeitam seus tempos, mutuamente )
ainda impassíveis de luxúria
( não vendo nada atemporal )
mas passíveis do polegar opositor
( se mantendo distantes e iguais )
e da oposição do polegar.