domingo, 18 de setembro de 2011

o outro, o eu, o débito

Andre Kertesz _ Shadow Self Portrait



o inferno com cheiro de jasmim e anil morre e encerra em si todo o nome
[da ignorância
seja ele um não saber seja ele o não saber é aquilo
[que não tem resposta
pras coisas feitas sem ser si no inferno, na verdade, não tem cheiro, cor, rastro
o inferno não tem memória
Acorda todos os dias em nós e desperta de súbito, sem vermos
Então pagamos seu preço, sem culpa, culpados
Todos os dez vinténs.

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Talvez por isso se precise de homen fortes e que chorarão na hora da sombra. Com seus chocalhos, feitos por seus pais. Com sua Força, feita por seus pais e consumida pelo mundo.
É por ignorância sim, que todo o inferno do outro, é em si não um cheiro, mas uma potência de cheiro. É por Não ter respostas que criamos essa fantasia e balançamos nosso presente barulhento, fazendo um barulho que evocará de nós a nossa própria hora da sombra.
Evocará o mal do mundo pela mão do mundo numa pergunta que responde o mundo. De um modo que o pedido seja da vontade de si, e de nem um outro a caminhar por suas mãos. O rastro é de quem deixa o rastro. A mão é a de quem levanta a mão e a vontade também. O inferno aparecerá, sim, um dia, em todos nós.
O inferno frio, o inferno frio, o inferno frio.
Se assim for, pela mão de quem tem vontade, que ele apareça, que se lembre, que se fale, que se deseje o próprio inferno. Não de si, mas dos outros, não dos outros mas de si. Que o pesadelo seja consciente e a dor na carne seja consciente. Que o débito seja pago com sangue. Sangue consciente,  e então o choro invada, mas um choro consciente, vindo sem embargo, mas por desejo.
Que a sombra inunde, então, o homem consciente na hora da sombra. Um homem sem débitos de vintém algum, sem culpa que não a sua de ser si. Que a sombra envolva sua força e chocalho e sua sorte. Que a força e a lágrima corram pelas mãos da sombra. Sem cheiro de mão. Pelos tentáculos da sombra. Pelos frios, frios, frios tentáculos. Sem cheiro de tentáculos. O anil sem cor, anil gelado dos olhos da sombra que engula um homem livre de si e do mundo, que o anil sem cor, anil gelado engula um homem livre de si e o outro. Que este anil venha a expelir um homem livre e consciente. Culpado, livre e consciente, de ser culpado livre e consciente. Que se devolvam os vinténs.
Que se pague os débitos com a culpa e a ignorância. Do homem que agora sabe.

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