terça-feira, 5 de junho de 2012

Os Berlandênses 2: A humanidade, depois de hoje, pode dormir sossegada.




Uma tevê passa propagandas e vídeos "engraçados" pescados na internet nas lotéricas hoje em dia. Por mais que o conteúdo seja uma porcaria, alguma força sobrenatural o torna hipnótico. Num certo momento, a tela plana enfeitiçada apontou um famoso grupo de pagode como possível dica de música. Fiz aquela cara feia, sabendo que, bêbado, cantaria qualquer coisa que tocasse onde estivesse.
Imediatamente uma senhora se põe a resmungar atrás de mim na fila:
_ Que porra de música é essa? Nunca ouvi falar. Olha o que se escuta hoje em dia...
_ Nem eu, minha senhora, nem eu _ pensei com as contas altas de luz e água esfaqueando meu bolso, enquanto pensava em seis números da sena.
_ Pois eu nem consigo olhar pra coisas assim meu filho _ completou balançando a cabeça, como que pra confirmar o pensamento. Ajeitou o cabelo, já grisalho, cruzou os braços e completou _ no meu tempo essas coisas não prestavam.
Sorri tão displicente, que as feridas na carteira até deram uma boa cicatrizada. _ E então, o que a senhora costuma a ouvir? _ Não me contive, quis passar o tempo em uma conversa besta, perguntei desinteressado e esperando ouvir um nome gospel, um Roberto Carlos, um Amado Batista.
_Pois eu meu filho, eu gosto é de um bom Beatles, Creedence, Pink Floyd, essas coisas que prestam para as pessoas ouvirem.
Uma sensação de espanto ecoou na lotérica. Naquele momento, uma luzinha foi apontada do céu, como um milagre, me senti ganhando um Kinder ovo do meu pai aos quatro anos de idade, pegando na mão da menina mais bonita da escola aos dez, zerando Zelda aos treze, ganhando cerveja aos dezesseis, sem ressaca depois de uma noite de bebedeira aos vinte.
A vida pareceu que seria melhor daquele momento em diante.
Gostaria de ter abraçado a senhora, mas me contive, ultimamente o mundo anda caótico para o afeto. Saí daquela lotérica com uma certeza: O mundo ainda tinha salvação, nessa terra esquecida por Odin.

Cena presenciada pelo autor deste texto em uma casa lotérica localizada na Av. Afonso Pena, quase esquina com a R. Goiás em Uberlândia, Massachussets.

Um comentário:

Carol Bernardes disse...

É como se vc descobrisse que existe o paraíso.