segunda-feira, 29 de março de 2010

Fiel, a ela, posso dizer.

Algo como a viciosa vendeta dos homens eu diria, que é por razões remetentes a meus desejos feridos. Assim começo esta estória, pois ela faz juz aos fins que tomei e, portanto, me arrependi depois e aprendi minha lição.
Era tudo pelos fins, dizia a mim mesmo, sempre foi e sempre é para o homem tolo, ou seja todos nós.
E foi assim do meu acordar, ao meu levantar, pensando nela. Dela todos falavam. Eram poucas as chances de dar certo naquele momento, mas aos quinze anos a gente sempre dá muito valor em si mesmo, naquilo que faz. Pobre rapaz, era eu, de tênis furados e aspirações cheias, e fui de coragem e cara, como alguém que passa rente às trincheiras na primeira rande guerra, para chegar naquela que encerrava meus pensamentos e dizer depois aquilo que me era condizente.
Oh, quantas vezes lhe dei sustento, mas, muitas dessas vezes, nada poderia me fazer apoio ao seu lado, sendo, assim em um pequeno invólucro a cerrava, pelo medo de perdê-la o frescor. Abria-lhe ao mundo, e entender-me fazia todo ele. Como desejei, como sonhei fazer boas coisas ao seu lado, mas de muito em muito, me deixava ao chão, a chorar mágoas que fulminavam meu ser. Religiosamente, voltava a ela de qualquer modo.
Quantas foram as chances de deixá-la, e os conselhos de minha avó e outras pessoas de meu convívio, do quanto me importunava aquela relação. Era eu esperto, pensava, era eu o dominante.
E nossa relação envolvia dinheiro, o mais preocupante para eles. Todos os meus centavos, contados em prol dela, que a mim era santificada e sagrada, maculada eu diria, mas não me importava, mesmo que com outros ficasse. Me amaria? Talvez não. Valer a pena valia.
Era tudo jovem de mais, era intenso. As promessas e prospecções e aquela emoção que me gerava...
Até que me vi envolto em intrigas que a falta dela me gerava. As quedas me eram piores, e a culpa era só dela! Não minha falta de moderação, meu desejo juvenil. Como a culpei, como a culpei. Como quis que ela se afastasse, era algo que não me saia da cabeça, algo que me importunava. As quedas, as tão comuns faltas de senso, de noção. Ela me abria, se me entende, sentia mais solto, leve com ela, me libertava. Contudo resolvi largá-la! Privar sua compania, voltar ao normal de meu mundo.
Muitos foram os motivos, podes entender. A pouca idade, a confusão gerada por ela, minhas dúvidas e meus excessos para com ela começaram o desentendimento. Algo meu, penso que ela não via assim. Não tinha estes preconceitos. Comecei a tê-la como vilã e dela resolvi engendrar vingança, e a maior de todas elas era meu distanciamento, ignorá-la.
E assim, destemido e nada maduro me distanciei.
Foram dias difíceis, posso dizer com certeza, não sabia se tinha feito a coisa certa. Envolvia paixão, desejo intenso. Algo como mutilar-me, a privação era complicada. Por que tomei tal decisão? E por que me perdi nesse meu moralismo? Não poderia ser moralismo comum e bobo, achava. Todos e, em um ponto crítico de tudo, até mesmo eu, pensavámos assim. A distância era horrível, como cair num mar de pensamentos acépticos e caretas, aqueles contraditórios aos grandes pensadores a quem tanto reverênciava. O que diria Sartre ou Bodelaire de mim?
Me senti um idiota, mas os fins eram bons, sentia. Me ver firme e de pé de novo, sem as quedas tão comuns e o falso senso de ser mais do que era, mais livre, talvez mais real.
Então, felizmente, em um dia que me encontrava louco por meus problemas adolecentes cacetes, pensei melhor, fui iluminado.
Era ali, em seus braços que poderia voltar a mim, melhor e mais feliz. Sem a vergonha de ter cometido injustiça alguma. Então reatamos, sem recentimentos, às boas dos tempos pueris. E meu meu amor por ela floreceu novamente, maior e responsável. Meu vício por vingança se foi, era então contra mim mesmo percebi finalmente.
Hoje sou feliz com ela, cinco longos anos depois e, o tempo separados não é nada agora e assim lhe fiz uma declaração:
Cerveja amada, declaro aqui, eu sei que estará comigo quando qualquer mulher em sua confusão me trocar por outro, decidir me largar ou que tenho que beber menos. Digo ainda, dourada musa, como a meus bons amigos não canso de repetir, estará aqui para meus netos, em todas as minhas hisórias, apesar das deslealdades que vir a cometer quando me embriagar de ti. Prometo não partir de novo e espero que em meu caixão, sejas derramada sobre mim. Contigo aprendi que a vingança não compensa tanto e por isso peço aos que lerem esse meu relato para não abusarem de ti. És melhor quando apreciada.
Hoje sou fiel, pois sei, ela me será sempre.

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