domingo, 23 de outubro de 2011

Carta-conselho a um amigo, por dez real



Entendo a questão do tempo e de não haver nada além de calor e distância nesta sua cidade. É de se perder no horizonte reto, sem nada que lhe faça lembrar um morro ou inclinação, para cima ou para baixo.

Assim, as metáforas da vida são menos simples, aí onde está.

E nesse tempo idiota que te lembra umas lágrimas e alguém que era só temporada, um samba de cortar o coração do da viola começará no seu player interno, mas engole seco e afarinhado o desejo dessa peleja, de não querer a volta e de crescer, emburrado e intenso, nesse plano no meio das coisas. O tempo, que às vezes para no ponteiro do segundo do escritório. O tempo que corre de canelas ensebadas na primeira diversão da semana. E tudo que às vezes é melhor esperar pulando de alegria. A frieza que se aprende se mantendo sentado. Todos os momento e minutos corridos ou arrastados, amaciados no primeiro copo de cerveja que lhe é servido. Preferivelmente, somente de segunda à segunda.

Não queira aí uma sala de espera.

Se alimente de si na distância que percorre, tempere as coisas com molho inglês e paciência britânica. Nunca foi de alarde, não é mesmo? Entenda a filosofia dos poucos que te acompanharem e converse com os mais velhos nos botecos. Não deixe passar do ponto os ônibus e aquelas pessoas que você pode se ater enquanto estiver por aí. Do menor, ao maior, da aventura com a vizinha, à paixonites de um nova pequena qualquer. Nenhum sentimento é menor, se a gente é maior. Mesmo estando longe, você daí mesmo, é só cuspir no chão, não pedir um cigarro e pensar na mãe terra. É ser sempre confiante, sempre receptivo, olhar sempre em frente e os decotes das que passam. É comer uma dieta leve, ir sempre ao médico, não cometer excessos. É internar as dores no asilo, ler a filosofia alemã e estampar no peito a bandeira de algum partido. É viver sem reclamar das coisas e ter a atitude de um vencedor de fórmula um multimegamaster milionário.

Mentira.

Não existem fórmulas. Existe a pancada de um bastão de concreto na cara, que é chamado experiência. Até lá, vamos formulando fórmulas, eu aqui barato e inerte, você aí, só e só.
Por enquanto, só enquanto. Deixo amanhã pra ontem. O agora é pra ser sentido feito uma faca desnecessária na barriga. Sem escolha.
Por enquanto, só enquanto, dividimos bobagens, Noel Rosa, umas dorezinhas de cabeça e uma cerveja imaginária nos inícios de noite. Torcemos um pelo outro, as roupas pra estender no varal e os pescoços de quem merece. Cremos nas coisas que nos ajudarão e esperamos nos encontrar em breve num meio-fio qualquer, de Minas ou de Marte.

Só lhe desejo boa sorte, roupas secas e achar dinheiro nos bolsos de vez em sempre.

Nenhum comentário: