sexta-feira, 16 de março de 2012

A morte matada de Daniel Lima - Uma ode ao ontem

"A poesia matou um poeta da região com algodão doce embebido em alcool 92% retirado do seio de uma garota jovem numa manhã de quarta. Não há vestígios no local. Chovia."
retirado de um jornal local.


Tudo começa com os nervos e os calcanhares terminando por acabarem. Eles morrem como células da pele. Uma a uma. Todos os dias.
Depois os ânimos se tornam porres de suco de vento e ressaca de vinho barato pago por alguém cujo nome está escrito em cantonês antigo. As situações são narradas pelo dono da garrafa e pouco entendidas.
Seguintemente os desânimos, tardes ensolaradas no telhado de quem não se teve o prazer de conhecer. Dançando gafieira com o poste de luz e a gravidade terrestre.

E então, vem o então. Vários entões.

A morte, em si, é dolorosa. Pode demorar 350 anos para acontecer. Depende das traças e do movimento de translação da Terra e de um estudo de astrologia, alquimia, astronomia e culinária dirigido por um duende montado num minotauro que não existe.
Em geral, o poeta morre de morte morrida. Alguns de morte matada, como o caso. Por olhos verdes/castanhos/azuis/amarelos de moça, ou a escalação do Atlético toda desfalcada e com três volantes da Fiat, ou mesmo fígados incapazes de pegar tuberculose decentemente ou atropelados por mosquitos em cruzamentos.
Mas em geral por morte morrida mesmo.
Não deixam herança, herdeiros ou hordas. Não deixam rimas, ritos ou ratos. Não deixam as contas do armazém pagas, nem as equações de segundo grau, nem as que ficaram de acertar com o herói do últio faroeste da ecada de sessenta.
Deixam só o lixo, como lírios de paralelepípedos, amores penitenciários de jardim de infância, restos de poeira da estante de livros do avô e metafísica de 1,99 compradas do Pessoa.

No dia em que matei Daniel Lima, era uma quarta-feira de cinzas.
Descanse em paz.

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