sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Rain Song e o ciclo


Se existiu alguma coisa que apurou meu ouvido foi o Led Zeppelin e o Pink Floyd. Não me esqueço do dia em que peguei The sounds remains the Same e Meddle para ouvir. Toda a estranheza do mundo recaiu sobre meus ouvidos. Eu estava acostumado ao Punk Rock barulhento, grunge deprê e pop rock repetitivo _ vide Offspring, Nirvana e Skank, que ainda gosto, apesar de ser meio repetitivo _ e menos de 5 acordes por música. Foi uma revolução com direito a queda dos 3 poderes e instauração de novo regime: Conhecia o Hard Rock e o Prog.
Entre essas duas bandas monstruosas, lembro-me de me interessar mais pelo Led, talvez por não ter ainda um ouvido apurado e gostar de todo barulho que uma Gibson podia fazer. O engraçado é gostar tanto de uma música que prima mais pela sua harmonia e melodia.
Rain song é, talvez, a música que mais escutei do Led Zeppelin até hoje _ não, não sou fanático por Stairway to Heaven, e digo escutar por livre e espontânea vontade _ e possui uma das letras mais poéticas e metafóricas da banda. Para aproveitar a sequência de temas sobre a chuva _ semana que vem publico uma crônica que ainda não terminei _ , nada melhor que lhes apresentar essa jóia do quinto álbum do Led, e meu favorito, Houses of the Holly, de 1973.
Os arranjos foram compostos por Jimmy Page e a letra que, além de várias interpretações, é uma alusão às fases da vida e dos sentimentos de uma pessoa, foi escrita por Robert Plant. Há também o suave e envolvente Melotrom de John Paul Jones e na bateria, sempre fantástica _sim, eu acredito que ela ganhava vida nas mãos de_ John Bonhan e sua habilidade épica.
Para quem se atenta à letra, muito bem escrita e com um ritmo simples e grudento, nota-se, num primeiro momento, aquela velha baladinha sobre amores eternos, o que não deixa de ser verdade. Porém, do que realmente fala a letra é de um crescimento espiritual em que passamos pela vida toda, e o amor, ou o conhecimento da verdadeira vontade, em nós mesmos. Seguindo um princípio simbólico, as estações do ano, descritas na música representam essas fases, a exemplo do fogo que queima na primavera, representando a juventude, ou o verão que tudo clareia, afastando as trevas, ou seja, a representação da chegada da razão, maturidade, para uma pessoa. No inverno, estação em que a vida se torna mais difícil para os moradores do Hemisfério Norte, Plant fala das dificuldades, o frio, e da obscuridade que enfrenta para a chegada da clareza, alva neve, que o rodeia durante o inverno. Não existe comentário direto sobre o outono, que é, em muitas culturas, a estação do ano que representa a morte. Entretanto, na estrofe final existe menção à chuva que deve cair, representando então o outono, estação do ano de muitas chuvas mais ao norte na linha do Equador. O que não dá sentido de morte, realmente, mas de renascimento, que é representado pela tocha que o autor clama devermos carregar conosco para sempre.
A música em si não fala de um ciclo completo_ Nasce, cresce, envelhece, morre _, mas de todos os dias, de um ano, de um ciclo não determinado em que uma pessoa evoluirá e que essa chuva, mencionada no título, regará e será responsável por esse crescimento.  Ou seja, assim como representa morte no outono, representa renascimento e força.
Recomendo ouvi-la repetidamente em seu quintal durante uma madrugada de chuva, levemente ébrio e em um dia de reflexão.






http://letras.terra.com.br/led-zeppelin/80031/ - Letra na íntegra e com a opção de tradução.

Curiosidades:

* As primeiras duas notas da música foram "emprestadas" de Something dos Beatles, em homenagem ao grande fã George Harrison, que havia comentado com John Bonhan a falta de baladas nos discos da banda.
* Essa é, segundo Robert Plant, seu melhor desempenho vocal em uma música.
* John Bonhan toca com as famigeradas baquetas "escovinha" durante toda a música, inclusive quando ela fica mais pesada nas estrofes finais.






2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

é a mais pop do Led.. heheheh
"isso não é rock não, mininu... eu quero é rock...."
música transcendente é KASHMIR.
como era bom!!!!