sábado, 18 de dezembro de 2010

Crônicas de Quintal nº 0.5 – Dor de cotovelo



Eu sei que uma sede lhe veio do nada, mas não deveria estar aqui, eu disse a todo mundo. Já que veio, senta logo e não comente os olhos marejados, são sem motivo algum. Talvez encham seu copo, já que está vazio e o garçom não vai fazer nada, eu tenho certeza.
Eu sei que todo mundo deveria estar aqui, foi uma perda complicada, já me diziam que ia acabar acontecendo isso, que no final nem tudo eram as flores do começo, muita gente me disse essa merda toda.
Sou cabeça dura, entenda isso, eu deveria pagar para ver não é mesmo? É melhor perder do que hesitar, não sou uma porcaria de um maricas!
Quanto ao torresmo, essa é a quinta porção. Quanto à cerveja, essa é a vigésima terceira. Quanto ao cigarro, esse é o terceiro maço. E não tente me impedir, não me traz aquilo de volta, é verdade, mas me deixa sentir tudo de uma vez pra acabar logo. E se quer mesmo escutar tudo, pergunte às outras pessoas, elas sabem de tudo, todos viram, todos comentam. Eu não posso lhe dizer que foi tudo de repente, que eu não esperava por nada.
Foi tão legal, lírico, lúdico. Eu saia do meu trabalho louco pra chegar em casa e... e... Eu já lhe disse para não comentar dos olhos marejados não foi? E nem da música sertaneja, eu não tive escolha, nós sabemos da braveza do Sêu Edson. Até ele, em respeito, não colocou Roberto Carlos. Ele sabe o quanto eu fiquei devastado depois do fim de tudo. Ele sabe o que é sentir como eu me sinto. Olha como ele acena de cabeça baixa. Isso sim é um amigo, Deus o abençoe.
Viu? Olha o meu estado. Você não é amigo coisa nenhuma, eu sou ateu cara, você percebe como essas coisas mexem comigo. É como se um pedaço de mim fosse arrancado e eu tivesse que preencher. E se fosse comida, toda a pele de porco já preencheu o que eu tenho e o que eu não tenho dentro de mim. O problema é que eu ainda não me desgarrei, é muito cedo, eu preciso me acostumar que acabou, que era bom de mais pra ser verdade. E você, no conforto dessa cadeira aí, se disser que eu ainda vou rir disso, vai sentir a gordura do porco na cabeça ouviu? Eu sei que não é legal da minha parte, mas essas frasezinhas que enchem dúzias de livros do Augusto Cury são pra ajudar gente que pensa pequeno, e poxa, como eles são felizes. Nesses trabalhinhos, nesses amorzinhos, nessa vidinha.  Sem conhecer o que eu conheci e senti na pele e vi e estive perto, não faz duas semanas, era meu, era meu...

Como assim você realmente só veio beber? Como assim você não sabe de nada, nem de quem eu estou falando? Eu achei que estivesse na cara, que todo mundo realmente falasse, eu não como direito, nem durmo direito faz duas semanas, é um ultraje alguém que quer ser meu amigo agir dessa forma! É claro que eu estou falando do meu trompete do Jazz Hero, autografado pelo John B. Davis, me custou quase o preço de um rim para comprar e três costelas quebradas por seguranças para pegar esse autógrafo.
Ele começou a acender umas luzes na sala, não sei por que, eram três da manhã e meu avô jogou pela janela do prédio.  Foi horrível, foi... o horror.... o horror!  Eu deveria... tudo bem, eu realmente vou precisar de seu lenço agora.

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