quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Keith o pirata, Mick o cavaleiro


Bob Dylan estava errado ao descrever  as pedras rolantes como seres completamente desconhecidos. Hoje em dia, do Laos ao quintal de sua casa em Pindamonhangaba, pelo menos seu tio renegado já ouviu uma música dos Rolling Stones, nem que seja a abusivamente repetida, falta de satisfação da geração de 1960.
A maior e a mais legendária banda de rock do mundo teve início quando Keith Richards e Mick Jagger, que era amigo de infância do então estudante da Sidcup Art College, se encontraram depois de muitos anos separados. Mick estava na faculdade de economia, os dois no auge de seus 17 anos, a efervescência adolescente precisando ser consumida, os ritmos estadunidenses consumindo a adolescência inglesa, a surgir uma invasão britânica em poucos meses, a música no meio do caminho.
O interesse mútuo por blues, principalmente Muddy Waters e Chuck Berry, foi o estopim para reunirem-se com seus conhecidos Brian Jones¹, Dick Taylor² e Tony Chapman³ em 1962 e formarem uma banda que, com o passar do tempo e de novos membros, foi se lapidando para o Rock'n'Roll mais visceral que já existiu. Um som enraizado nos ritmos negros do soul, R'n'B e blues, onde até hoje em dia todos convergem, juntamente com o rock, em cada uma de suas músicas.

Uma vez que foram devidamente apresentados, vamos à alma dessas pedras rolantes, The Glimmer Twins:

Sir Jagger, (sim, o título lhe foi dado em 2003), é filho de um professor, que seguiu a carreira de seu pai, e que viria a ser a de Mick, e de uma mãe cabeleireira. Assim como Keith, nasceu em uma família de classe média, em uma cidade de pequeno porte na terra da rainha. Seu desejo de cantar não era encorajado pelos pais, mas ele o atormentou desde muito jovem e, junto do futuro guitarrista dos Stones Brian Jones, fazia parte de um dos inúmeros grupos de R'n'B da Inglaterra feitos por estudantes. Seus pais eram do partido conservador inglês e esses ideais permearam a vida do futuro rockstar, que se tornaria um dos símbolos de transgressão cultural da década de 1960.
Keith, o pirata, é filho de pais socialistas. Estudou com Jagger na mesma escola primária e era vizinho de quarteirão, mas depois de se mudar para o outro canto da cidade de Kent, que ele descreveu como um pesadelo de concreto, eles se separaram e só foram se encontrar novamente em 1960. Quanto à sua família, seu pai foi ferido na invasão à Normandia em 1944 e manteve um emprego como operário. Sua avó materna era cantora de soul e influenciou diretamente os gostos do futuro mestre dos riffs e sua mãe frequentemente o encorajava com a carreira artística.
A química entre os dois trouxe à vida muitas das melhores músicas do rock de todos os tempos. Eles que tomaram a liderança da banda de Brian Jones, ainda no início da banda, que primava por versões conhecidas de blues e soul, ao escreverem e musicarem juntos as músicas Tell Me (You're Coming Back) e The Last Time em 1965. Foi o primeiro passo para a forja de petardos como Brown Sugar, Street Fighting Man e Sympaty for the Devil, alguns dos maiores clássicos de letra e ritmo do rock.
Falando na química, os dois têm uma relação de amor fraternal e ódio mortal desde o início da banda. Mick possui um temperamento conciliador e divertido, um quê de empresário, ou mesmo de alguém que faz parte da realeza. Hoje em dia é budista, medita diariamente e mantém uma vida regrada e tranquila, além de uma energia criativa e física interminável, já em seus 67 anos.
Keith, que conta com o mesmo número de abóboras colhidas, é direto em suas respostas, possuidor de uma inteligência rápida e bem fundamentada, é um leitor voraz e dono de uma biblioteca enorme. Costuma ser franco até as últimas consequências em suas entrevistas e em suas declarações, seja o assunto sua dependência química, que o rotulou dentro do mundo do rock, seja sobre sua família, que declara publicamente ser extremamente apegado.
Tendo personalidades tão diferentes, Mick e Keith já tiveram brigas que desenvolveram anos sem se falarem direito. Seja por música ou por vida pessoal, um sempre se preocupa com a atitude do outro em relação às coisas da vida e se cuidam como irmãos,  já que se conhecem a mais de 60 anos e, como diz sir Jagger, eles nunca poderão se divorciar. Algo que faz a alegria de todos os amantes do rock'n'roll.
Algumas declarações sobre a parceria: 

Mick está muito interessado em controlar as coisas e eu estou muito interessado em ser incontrolável (risos) ... (Mick e eu) estamos a lutar pelos Stones, do nosso próprio jeito. E é isso que no faz uma grande banda juntos. Você não faz isso facilmente... Mick é o meu maior companheiro, você sabe, e nós temos esse bebê chamado Rolling Stones. E podemos ter idéias diferentes em determinados momentos de como trazer o bebê, você sabe (risos), mas é um bebê muito foda.

Keith, 2010

Por alguma razão, Keith e eu escrevemos juntos. Talvez porque nós nos conhecemos há muito tempo e somos amigos. Eu não tinha experiência para fazer tanto com a composição. Brian era um músico muito melhor. Mas parecia muito natural que Keith e eu fossemos muito bons nisso. Brian era muito problemático e era óbvio que Keith e eu, depois de tentarmos algumas vezes,faríamos um bom trabalho ... Eu tinha um talento para escrever e Keith sempre teve muito talento para a melodia no começo. Tudo, incluindo os riffs, veio de Keith.    

Mick, 1979    


1- Deixou a banda logo antes de morrer em 1969 para ser substituído por Mick Taylor, que deixou a banda sem dar muitas explicações em 1974, sendo substituído pelo amigo de longa data de Keith, e icônico rockman, Ron Wood.
2- Sucedido por Bill Wyman, que deixou a banda por problemas com os direitos sobre as composições das músicas.
3- Substituído já em 1963 pelo divertido, porém arquetípico baterista caladão, Charlie Watts.
Nota:  O nome, Glimmer Twins veio de um casal que, vendo-os em um bar no Rio de Janeiro en 1968, os acharam com uma aparência familiar e pediram uma pista, (glimmer em inglês, que também quer dizer vislumbre), em relação a quem eram. O nome soou bom para os dois e eles começaram a utilizá-lo em suas composições, que nem sempre tem participação integral na letra ou no ritmo, ficando, geralmente, Mick com o primeiro e Keith com o segundo.

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